03 março 2009

Seu Caio e as enchentes

Seu Caio é um senhor engraçado e animado que conserta motores elétricos. O tipo de pessoa de sabedoria simples, que trabalha honestamente e que instiga a gente a um bate papo prolongado e relaxado. Nesses últimos tempos de chuvas fortes, férias de verão e motores queimando temos nos visto mais vezes. Primeiro foi o cortador de grama que pifou, depois foi o motor da piscina que foi engolido pelo lençol freático, depois o cortador de grama de novo, e foi aí que levamos um susto.

Seu Caio já tem uma certa idade o que faz a gente pensar com tristeza que, um dia, não mais estará lá para fazer esse tipo de serviço tão importante e necessário. Na semana que nossa cidade ficou inundada, Seu Caio não abriu a oficina por vários dias e, depois de várias tentativas, ficamos sabendo que a casa dele “estava debaixo dágua”. O tempo passou, as chuvas cessaram, a cidade secou, e seu Caio voltou e, por incrível que pareça, com bom humor redobrado.

Perguntado com tristeza sobre a tragédia, ele disse que foi tudo muito fácil e tranquilo:

--- A água só subiu um meio metro dentro de casa e só tive que levantar o sofá, uma mesa, a geladeira e o fogão. Uns engradados foram suficientes. Isso acontece mais ou menos a cada 3 ou 4 anos e já estou acostumado. Depois que a água baixou, lavei tudo bem lavadinho com água sanitária e, vou dizer a verdade, ficou até melhor do que estava antes. Foi “mole pru gato”.

“Mole pru gato”. Há tempos não ouvia essa expressão. Conversamos mais um pouco, ouvi atentamente o homem descrevendo o resultado da enchente como se fosse a coisa mais normal do mundo. No final, sem nenhum abalo visível, ele deu uma olhada no motor do cortador de grama e me prometeu o serviço pronto para daqui uns 2 dias.

--- Pode vir que vai ficar joinha, joinha.