Estava devendo esse post para completar a história da cirurgia de artrodese na coluna no nível L5-S1 com colocação de parafusos e plaqueta de titânio, material fornecido pela Hexagon Indústria e Comércio de aparelhos ortopédicos, uma empresa de Campinas. Estive pesquisando várias empresas que fornecem esse tipo de material, inclusive a Depuy da própria Johnson poderia ser uma possibilidade, caso eu resolvesse fazer a cirurgia em outro lugar. No final, preferi confiar na experiência de mais de 20 anos da equipe do Dr. Goveia e também de que essa equipe, certamente, teria ao longo dos anos, adotado um material de qualidade comprovada. O resto ficaria por conta do plano de saúde.
Viajamos à São Paulo de ônibus, eu a Isabel, companheira de todas essas horas amargas. Tomei uma dose caprichada de Codaten para tolerar a dor na perna e lá fomos nós. Já no Hospital, esperando os arranjos na recepção, fizemos contato com uma outra pessoa, jovem ainda, funcionário das Casas Bahia, com uma aparência bem combalida, conversa vai, conversa bem, ele nos contou que estava lá para colocar 3 pontes de safena e que, há tempos, vinha tendo muitos problemas sérios no coração. E a cirurgia seria na manhã seguinte, no mesmo horário da minha.
Olhei bem para ele e, em silêncio, até senti um certo alívio ao comparar minha situação com a desse jovem. Achei que a minha cirurgia seria bem mais simples do que a dele e não gostaria de trocar de lugar.
Coisa ridícula essa de fazer a tricotomia da parte lombar às 5 da manhã e o pior, por um enfermeiro homem. Mas tudo bem. Naquele momento comecei a entrar naquele clima horrível de hospital onde o paciente se torna um nada nas mãos de qualquer um.
Preparado para injeção “fatal” da anestesia, insisti com todo mundo ao meu lado para que tentassem fazer um entubamento menos doloroso que da última vez, um serviço melhor. Todo ouviram com atenção e acho que funcionou. Disseram que usaram um tubo mais fino, mais maleável enfim, mais amigável e, no final, funcionou, pois minha traquéia resistiu quase ilesa dessa vez.
4 horas depois, de volta ao quarto, volta da anestesia, vivo enfim. Sobrevivi. Como sempre, todos os médicos disseram que correu tudo bem – os médicos sempre fazem isso - e que no dia seguinte já poderia me levantar. Todos os medicamentos por via intravenosa, nada de comprimidos, o único dissabor foi o desconforto indesejável de esvaziar a bexiga que não aconteceu sozinho por vias normais. Rios, ribeirões, postes, muros, matos, vielas escuras, banheiro de festa, cervejada, nada, nada adiantou. Dessa vez, só mesmo com a sonda apavorante e não só uma vez mas 3. Isso foi o que houve de pior. O resto deu prá tirar de letra. Mas sobrevivi de novo. A gente sempre sobrevive.
Ainda bem que prá compensar houveram as enfermeiras, todas muito gentis e sádicas como hão de ser.
Foi assim, agora, pinado e parafusado, vamos ver como vai ser a vida.
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